Experiências sobrenaturais acontecem a todos nós, mesmo quando não as identificamos por esta natureza. No ano de 2001 alugamos uma casa num determinado bairro da cidade de Manaus. À primeira vista nos pareceu agradável, embora o aluguel fosse um pouco salgado decidimos alugá-la.
Os proprietários da casa se mostraram interessados em negociar um valor que agradasse a ambos. Na inexperiência pensamos se tratar da dificuldade que existe em manter um imóvel fechado sem inquilinos. Fechamos contrato de um ano, a partir daquela data.
Muito ampla e clara, segura e arejada. Três confortáveis quartos, que logo foram escolhidos por nós. Bom, na verdade, escolheram o meu, o maior de todos. Uma enorme janela em arco de madeira e vidro que ia até o chão, tela contra insetos, adorei. Havia um extenso corredor que à direita dava acesso a uma ampla cozinha e ao banheiro.
No dia marcado nos mudamos. Aos poucos a nova casa foi ganhando nosso perfil. A vida continuava seu rumo. Todas nós sempre trabalhamos, com isto, quase não se parava para observar nada no ambiente. Os donos, apesar de morar ao lado, nunca nos procuraram para saber se estávamos bem instaladas. O meu trabalho era bem próximo da casa, o que me permitia ir e vir a pé. Todos os dias eu era a primeira a chegar, trancava-me no meu quarto e lá esquecia do mundo. Certa noite, ao passar pelo corredor e me dirigir à cozinha tive a nítida impressão de ouvir vozes que me acompanharam como se andassem ao meu lado, pareciam sair da parede e tomar todo o corredor, era a voz de uma mulher que parecia correr e pedir socorro, chorando. Fiquei assustada, parei e procurei orientar-me, pensei que podia ser da casa ao lado que fazia parede com a nossa, mas não havia condição daquele evento vir de outro lugar que não fosse do corredor da minha casa. Este episódio, que durou apenas alguns segundos, não fiz questão de levar ao conhecimento das meninas, achei melhor não falar nada.
Os dias se passaram e pude então observar algumas manifestações de ordem não natural que ocorriam pela casa em qualquer hora do dia ou da noite. Surpreendentemente, elas não me causavam medo, mas sim, curiosidade. O primeiro quarto estava desocupado, e meu irmão passou a morar com a gente, por uns tempos. Finalmente instalado no seu novo quarto, nos recolhemos aos nossos para dormir. Às duas e trinta da madrugada, mais ou menos, acordei ouvindo batidas na minha porta, levantei e a abri. Estava na minha frente o meu irmão só de cuecas, pálido e embaraçado:
- Mana, como vocês conseguem dormir nesta casa? - perguntou-me ele, assustado. Supus se tratar do calor ou mesmo do barulho dos carros na rua, então perguntei a ele se era isso e ele me disse que ao deitar, já quase adormecendo, acordou com vozes ao ouvido que o chamavam com insistência, por isso ele havia me chamado. Procurei acalmá-lo e lhe expliquei que aquelas coisas estavam acontecendo estranhamente, fazia alguns dias.
Outros incidentes como aquele continuaram a acontecer sem maiores proporções e sem que déssemos muita credibilidade a eles. Acontece que por duas noites eu acordei sufocada, como se estivesse asfixiada, pulei da cama, acendi a luz e recobrei o fôlego e minha respiração normalizou, pensei que pudesse ser o início de uma crise de asma. Outros eventos aconteceram no meu quarto ainda sob a luz do dia, como quando a tecla do deck do meu aparelho de som desligou sozinha, várias vezes, de acordo com que eu o ligava para ouvir música. Mas o mais intrigante de todos estes acontecimentos deu-se de madrugada, comigo: Era a terceira vez que eu acordava sem poder respirar, atônita, gelada, mas desta vez sentei-me na cama para poder normalizar minha respiração, e ao tentar levantar da cama para abrir a porta do quarto e pedir ajuda, vendo que eu continuava sufocada, para minha surpresa e total espanto, caí no chão sem poder mover minhas pernas.
Lembro-me de arrastar-me até a porta do quarto com dificuldade e abri-la. Pude imaginar com clareza o que é ser paralítica, pois fiquei naquele estado por alguns minutos, creio que dois ou três, no máximo. Não sentia nada da cintura para baixo, então resolvi bater na porta do quarto da minha irmã, tive que me arrastar pelo corredor escuro até chegar na porta e bater.
Quando fui socorrida, automaticamente voltei a sentir minhas pernas, para meu alívio. No outro dia senti dores nas costas e pude identificar um hematoma logo abaixo da coluna devido à queda da cama ao tentar me levantar sem saber que não podia andar.
Alguns meses depois, talvez menos, procuramos por um padre que celebrou uma missa na casa e benzeu todos os cômodos com água benta. Os episódios cessaram, nada mais foi visto, sentido ou mesmo ouvido. Resolvemos desocupar a casa antes do término do contrato, na verdade, aquela casa não nos trouxera bons fluídos. Como os proprietários também alugavam apartamentos, resolvi ficar por lá, aí o contato com eles passou a acontecer, pois morávamos em frente a eles.
Tempos depois, num dos dias de pagar o aluguel do apartamento, conversando com a proprietária, comentei sobre os acontecimentos na casa, e não muito surpresa, ela me confessou que sempre teve problemas para alugá-la, pois os inquilinos queixavam-se de assombrações e não ficavam lá mais que dois ou três meses. Disse ela que resolveu não nos falar nada, pois temia que não aceitássemos alugar o imóvel, devido à história um tanto macabra. É evidente que isto teria acontecido, mas ela tinha a obrigação de pelo menos nos preparar.
Fui tomada de um espanto ao ouvi-la contar-me que um inquilino muito querido dela, quase um filho, havia falecido na casa alguns anos atrás, no quarto que eu ocupara. Pedi que ela me contasse tudo como havia acontecido. Ele e o pai foram os primeiros inquilinos da casa e tornaram-se muito amigos dela e de seu marido, o tempo passou e foi descoberto que o rapaz estava com câncer pulmonar em fase terminal. Ela passou a cuidar dele como se fosse seu filho, o alimentava, fazia companhia para ele quando o pai precisava se ausentar.
O estado dele agravou-se causando paralisia irreversível nos membros inferiores, o que o obrigava a permanecer no quarto em tempo integral. Era acometido de crises fortes de falta de ar, e nestas ocasiões ficava sob o balão de oxigênio. O quadro dele agravava-se a cada dia e num domingo à tarde, enquanto o pai tocava para ele uma música no violão, veio a falecer com uma parada cardiorrespiratória em conseqüência do câncer pulmonar.
Senti que faltava chão nos meus pés ao saber de toda essa história. Os acontecimentos na casa, as vozes, as perturbações, as manifestações físicas vividas por mim... asfixia, a paralisia inexplicável, tudo, tudo fazia sentido agora. Resolvemos nos mudar daquele lugar, não gosto de lembrar daquela época, sinto calafrios. Se o mundo sobrenatural existe, ele, com certeza, veio nos dar uma prova, através das experiências estranhas e incríveis vivenciadas por nós naquela casa.
Escrito por: Andréa Dídia
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